domingo, 29 de maio de 2016

Qual o barulho da lua?



Caio me pergunta: "Qual o barulho da lua?"

A lua é uma testemunha silenciosa

às vezes feliz. às vezes triste
às vezes plena, às vezes pequena

Depende daquilo que vê...


Fica feliz

se vê um casal que bem se quis

Fica triste

se vê um solitário que lhe resiste

Fica plena

se vê uma agradável e bela cena
(de amantes que se dão)

Fica pequena

se não.

Klara Rakal


Poeminha escrito em maio de 2013 e já publicado no Blog do Caio.

Relembrando então:
 http://caio-meufilholindo.blogspot.com.br/2014/01/caio-me-pergunta.html

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Minhas Memórias Literárias III

"Sim... sou professora, mas se me tornei uma, foi por puro medo e admiração de uma professora da época do ginásio: a dona Marilene. O quase parentesco da “tia” cedeu lugar para o respeito que nos imobilizava diante da agora “dona”. Enérgica, sua voz se tornava doce quando chegava o dia da entrega das redações corrigidas. Ela era só elogios para meus primeiros e vacilantes textos, e deixava recadinhos em cinco ou seis palavras que eram, para mim, versos da mais pura poesia, lidos, relidos e decorados, como se a me convencer de que um dia, realmente, eu poderia ser uma verdadeira escritora."

Com este trecho descrevi timidamente, no livro "Minhas Memórias Literárias", as circunstâncias que me incentivaram a ser uma professora e também uma escritora. E explicitei quem foi a minha inspiração: profª Marilene Tinoco, que me deu aulas de Língua Portuguesa nos anos de ginásio, na Escola Municipal Belmiro Medeiros.



Tornamo-nos amigas no Facebook e lhe fiz o convite para assistir ao I Sarau do Bar. O que ela não sabia é que havia lhe preparado uma pequena surpresa...

No dia marcado, quando cheguei ao bar, estacionei o carro e meu coração já estava aos pulos... Falei com meu filho que me acompanhava: "acho que vi minha professora!". Claro que toda a família já estava sabendo do encontro e Caio estava bastante curioso, diria incrédulo, acho que ele me considerava velha pra ter uma professora... Conforme me aproximava, ia procurando-a, até que a vi, já acomodada numa mesa. Meu ímpeto era correr, só não havia ainda decidido para qual direção: ao seu encontro, para abraçá-la finalmente, ou para o lado oposto, fugindo, pois toda aquela ansiedade era demais pra mim, rememorando meus tempos de timidez extrema.

Ela era exatamente como a imaginava! Claro que as fotos no Facebook ajudaram-me a resgatar sua imagem; mas o jeito de falar, de sorrir e gesticular era o mesmo que guardara na gavetinha mais especial do meu coração.


Eu tinha um receio, lá no meu íntimo: que aquilo tudo fosse uma atmosfera criada por mim e que não correspondesse à realidade. Tinha medo de que o encanto se desfizesse quando passasse a vivê-lo realmente. Mas o que aconteceu foi exatamente o contrário! Abracei-a o mais que pude (será que fui inconveniente? Ai, meu Deus, essa dúvida agora me ocorreu!), conversamos, fui presenteada! Houve uma sintonia mágica... Como eu estava feliz!


Iniciei o Sarau, vieram as apresentações, poetas declamaram, mostraram seus livros, até que chegou o momento da surpresa: apresentei o livro "Minhas Memórias Literárias" ao público, li o exato trecho acima em destaque, entreguei-lhe flores junto com um exemplar carinhosamente dedicado a ela! Foram momentos de muita emoção!







A partir desse momento compreendi que nada é definitivamente passado, tudo nos pertencerá sempre: o que fomos, o que fizemos, com quem estivemos... O que vivemos define o que somos, e poder reviver tudo (até as dores) nos torna melhores, mais fortes e mais felizes.

Foi um sonho realizado.


sábado, 21 de maio de 2016

Minhas Memórias Literárias I



MEMÓRIAS DA VIDA INTEIRA

       Aprendi a ler no trajeto que fazíamos com alguma frequência entre a Ilha do Governador, onde minha família mora até hoje, e Botafogo, bairro onde na época residia uma das minhas tias paternas. Eram os imensos outdoors no alto de prédios como o da Mesbla, visualizados do Aterro do Flamengo, ou os indefectíveis letreiros da Coca-cola.

       Depois, nos bancos da Classe de Alfabetização da Escola Municipal Belmiro Medeiros, esquematizei o aprendizado andarilho pelas afetuosas intervenções da tia Vera, única informação que tenho dessa profissional que cuidou de me ensinar o que eu, inconscientemente, já sabia...

       Veio a tia Ivonne, nos quatro anos de primário que se seguiram, com seu jeito firme e cuidadoso de nos conduzir no mundo escolarizado. Aprendi muito mais do que nomes, qualidades, ações ou circunstâncias, todas antecipando as classes de palavras que, hoje, tanto me acalentam o fazer profissional.

       Sim... sou professora, mas se me tornei uma, foi por puro medo e admiração de uma professora da época do ginásio: a dona Marilene. O quase parentesco da “tia” cedeu lugar para o respeito que nos imobilizava diante da agora “dona”. Enérgica, sua voz se tornava doce quando chegava o dia da entrega das redações corrigidas. Ela era só elogios para meus primeiros e vacilantes textos, e deixava recadinhos em cinco ou seis palavras que eram, para mim, versos da mais pura poesia, lidos, relidos e decorados, como se a me convencer de que um dia, realmente, eu poderia ser uma verdadeira escritora.

       Mas antes mesmo da paixão de escrever veio a mania de ler. Desde os meus cinco anos, espiando timidamente pela janela do carro que à média velocidade fazia o Ilha-Botafogo, eu lia o que me aparecesse pela frente. Ou entortava o pescoço até quase doer para observar os desenhos das letras das propagandas laterais, menores, nos postes e placas, mais ao alcance do asfalto quando o carro parava em algum sinal.

       A primeira literatura que me caiu nas mãos foi uma coleção preciosa – porque não era minha – de capa azul com vários clássicos Disney. Não, não falo de uma Pequena Sereia, nem de A Bela e a Fera, muito menos de Pocahontas; antes, refiro-me às histórias de Branca de Neve e os Sete Anões, Dumbo, Bambi, A Dama e o Vagabundo, Pinóchio, assim mesmo grafado. Ricamente ilustrados e surrupiados de mim pelos irmãos mais velhos.

       Um pulo no tempo faz-se necessário, pois, paradoxalmente ao esforço de escrever minhas Memórias, sou péssima de memória. Só me lembro de flashes, em que devorava os gibis do Pato Donald, da Luluzinha e, mais tarde, da Turma da Mônica (os quais, preciso confessar, até hoje...); os romances para adolescentes apaixonadas (qual adolescente não é permanentemente apaixonada por algo ou alguém?), que por pura falta de imaginação eram publicados em livretos de banca chamados de Bianca, Júlia e Sabrina... Década de 70? 80? Bem... já disse que memória não é o meu forte. Mas pela minha data de nascimento, sentencio: em idos de 1980.

       Em determinado momento, adolescente ainda, entrou na minha vida o Círculo do Livro, uma espécie de clube em que o associado tinha de adquirir pelo menos um livro por quinzena. Aqui entra o grande “mecenas” da minha “arte”: mamãe. Fazia pensão caseira e, às custas de um trabalho que lhe roubou a juventude, vendia marmitas entregues de bicicleta pelo meu irmão, que invariavelmente escutava, irritadíssimo, um “Marmiteiroooo”... Resultado do esforço dela foi a prateleira repleta de best sellers e de surpreendentes autores estrangeiros, e dois livros sempre insuficientes para um só mês. Foi uma época de muito ler e descascar batatas e outros legumes.

       A mania de ler me levou para a escolha da faculdade: Letras. Foi na UFRJ que descobri, encantada, as várias possibilidades de leitura... e por ela me apaixonei irremediavelmente, sobretudo pela poesia, mais sobretudo ainda pela poesia de Drummond e Bandeira. Reunião e Estrela da Vida Inteira são os meus livros de cabeceira, até hoje.



Texto escrito especialmente para o concurso de redação Minhas Memórias Literárias, para professores e bibliotecários da rede municipal, em 2015.

O lançamento do livro ocorreu em março de 2016, na Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, Rio de Janeiro.




terça-feira, 17 de maio de 2016

Minhas Memórias Literárias II

Manhã de lançamento do livro no qual conto um pouquinho de mim e da minha trajetória de leitora/escritora.

Belas e indispensáveis palavras de Bia Hetzel e Ninfa Parreiras, que nos emocionaram com suas impressões durante a seleção dos textos.

A cumplicidade de sempre do meu marido Antonio Carlos que pacientemente me acompanhou.

A coordenadora da 11ª CRE, Tânia Bendas, nos prestigiando com sua presença.

Foi tudo perfeito.

Já mergulhei em tantas memórias, não consigo parar de ler e percebo que as minhas são de muitos também! Impressionante!

E o orgulho do colega Diego Knack que merecidamente foi um dos dez premiados!!

Bastante feliz!!






O último abraço


O último abraço

Quando darei o último beijo?
Quando farei amor pela última vez?
O último abraço, o último laço
Que me une ao mundo, quando o romperei?

Por isso abraço tanto, beijo muito,
Faço amor com amor e estupidez.

Quando cessará minha lucidez,
A surdez fechará meus ouvidos
E assim meus sentidos não terão mais sentido?

A cegueira se instalará
E não verei sequer o último adeus?

Mesmo depois de todos os abraços,
O último abraço me surpreenderá
Sem que eu saiba ser, de fato, o derradeiro.

E não me conformarei
Pois quereria ter abraçado mais, beijado mais, amado mais.

KLARA RAKAL
09-10/05/2016