sexta-feira, 16 de agosto de 2013

no
lento:

sonolento.

Poetrix produzido coletivamente por mim e pela turma 701 
do Centro Educacional Governador! Alunos queridos!

sábado, 10 de agosto de 2013

Sobre ridículos, batatas, silêncios e decisões

     Ando muito ridícula.
     Não consigo me lembrar se já coloquei sal nas batatas que estão cozinhando. Olho pra elas longamente, nada me dizem. Só devolvem o olhar.
     Enquanto faço janta, penso.
     Turbilhão na minha aparente calma. Muito apreensiva. Calo.
     Tenho me calado mais do que o normal e muito mais do que o necessário. Meu caçula tagarelando, perguntando, pedindo... Ouço a voz, mas não distinguo as palavras. Até que, por fim, ele conclui:
     - Mãe, você tá congelada?
     Os nuggets, merda! Corro ao forno. Não, alívio, não viraram carvões. Mas passaram do ponto.
     Congelada. Sim... tenho estado... Mas meu pensamento ferve. Como não queria estar me sentindo assim. Não, não estou satisfeita, querem saber os inquisidores. Eu que calo tanto, tenho a vontade de gritar: chega! Estou cansada.
     Onde pus os óculos? Não enxergo o suficiente para procurá-los. Recorro ao caçula que, se não tivesse apenas seis anos, juraria estar debochando:
     - Estão aqui, mãe... - Só faltou o tsc tsc.
     Tsc tsc. A reprovação na fala de colegas que nem conheço pessoalmente. Eles não sabem que existo, mas já me chamaram de burra, de preguiçosa, indiferente, satisfeita. Sinto uma pressão...
     Ah! É uma barba recém-feita na minha nuca. Segundos de bem estar...

     Tinha marcado a dentista. Quinta-feira, final da tarde letiva. Escovei os dentes e passei fio dental, tomando cuidado para não ser vista. Nunca quero ser surpreendida passando o fio dental: minha gengiva sangra. Apressada, envergonhada, a sala repleta de discussões, ordens do dia, opiniões contra e a favor. Pode ter parecido que me esquivei, mas juro, dentista às dezoito. Falo pra alguém que sequer olhou pra mim "tchau, tô com pressa, vou ao dentista" e saio.
     Subo e desço a rua, mas não era aqui? Escuro já, atrasada, obras sem fim no Jardim Guanabara, mas que relevo filho da puta. Mal enxergo. Vão pensar que me furtei ao convívio do politizado momento - penso. Dezoito e trinta quase, desisto. Penso em ligar para a dentista, mas onde diabos fica seu consultório? Sem créditos. Pego o retorno mais próximo.
      Ouço Calcanhoto no rádio do carro "eu perco o chão eu não acho as palavras eu ando tão triste eu ando pela sala eu perco a hora eu chego no fim eu deixo a porta aberta..." É a dela ou é a minha voz que canta? Confundimo-nos.
     Resignada. Calada. Em casa agora. Caderninho aberto com o telefone da dentista e a anotação da consulta marcada: 07/08, quarta. Heim? "...eu não moro mais em mim."
     Congelada, sangrando, indecisa, atrasada em um dia. Eu ando muito ridícula. Nem confessei para o Facebook, aquele f azul com certeza riria de mim.
     Termino o purê. Aproveito para amassar, apunhalar, aniquilar as batatas. Alguém tem que pagar por tanta angústia dentro do meu ser. (Lembro-me de um poema há muito esquecido: "Angústia dentro do meu ser". Credo! É melhor que fique esquecido!)
   
     Provo as batatas, sabor deliciosamente realçado pelo sal no ponto, apesar do massacre. Me parecem resignadas, eu diria contentes, até.
     Nem tudo está perdido: eu não salgara as batatas, enfim.
     Nem tudo está perdido.

Em 09/08/2013, aderindo à greve dos professores do Município do Rio de Janeiro.