sábado, 26 de novembro de 2011

Nós quatro



FILHOS

Quatro corações já bateram dentro de mim.
Um, sem o qual não vivo.
Os outros, sem os quais
não viveria mais.

Klara Rakal
07 09 2011 

- imagem do arquivo pessoal -

domingo, 13 de novembro de 2011

Shhhhh



Chove pouco...
aqui o céu só soluça...
que nem meu peito rouco,
se o sentido se esmiúça...
E do meu sonho louco,
só escuto o eco: é a fraca chuva,
dizendo shhhhh

Poema criado agorinha mesmo, a partir de uma pergunta feita no Facebook pela Jack Paula, que queria saber se aqui estava chovendo tanto quanto lá...

-imagem pesquisada no google-


domingo, 6 de novembro de 2011

Solidão depois


          SOLIDÃO DEPOIS

          A pior solidão é aquela
          que a gente sente quando
          se espera alguém.

          É a ausência.

          Só há ausência se houve,
          um dia,
          a presença (avassaladora, de alguém).

          A lágrima é morna.
          Mas só por um instante.
          O vento a esfriou.

          A coisa de que eu tenho mais medo,
          agora sei,
          é a solidão.

          Pensava que era a morte,
          mas não: o pior da morte
          é a solidão depois.

          Meus olhos agora ardem
           – secos! –
          com o vento que esfriara
          a lágrima.

          Ela não existe mais...
          Ficou só o vazio...

Poema selecionado, mas não premiado no III Concurso de Poesias da Biblioteca Municipal  Euclides da Cunha (Cocotá). Muitos poemas de alta qualidade literária e belíssimas interpretações. Tema livre.


               -foto do arquivo pessoal-
               -imagem pesquisada no google-

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Bruxas Modernas


 BRUXAS MODERNAS


Hoje em dia, ninguém mais acredita
em bruxa velha, feia e má.
Verruga no nariz? Já era!
Cabelo espetado, chapelão preto? Já era!
– Já era, já era, já era!!!
Agora, todas nós somos
bruxas modernas...

Pra começar, um trato no visual:
banho tomado, pele perfumada,
roupa fresquinha e bem cuidada,
penteado no cabelo, capricho especial
no rosado do rosto: batom, pó facial.
Afinal, uma boa bruxa
tem de estar de bom astral!

Na receita da poção moderna
não entra pó de múmia... Não entra!
                  perna de barata... Não entra!
                  asa de morcego... Não entra!
– Não entra, não entra, não entra!!!

A mágica começa
quando a imaginação trabalha:
Poção do amor – ponha cor de rosa
                             que tem muito valor.
Poção da paz – use a cristalina
                          água que o rio traz.
Poção da saúde – acrescente energia
                              e a todos ajude.
Poção da felicidade – derrame violetas
                                     por toda a cidade.

Toda gente, lá no fundo,
tem um bruxo bem bacana,
bem legal, profundo
e que ama todo o mundo...
Para o bruxo vir à tona,
é só soltar a imaginação,
sentir, se descobrir
e ouvir o coração:
                                  eu quero,
                                  eu posso,
                                  eu consigo!!!
- imagem pesquisada no google -

Esse poema foi criado em 1992, durante um curso de "controle da mente". Na época, eu estava muito desanimada por conta de mil currículos enviados e nenhuma vaga conseguida. Depois disso, coincidência ou não, passei no concurso e entrei para o Município, onde leciono desde então.
Postando esse poema porque ando me sentindo mais bruxa do que nunca... E como agora é época de Halloween, tudo a ver.

Poema premiado e publicado na coletânea POESIA NA ESCOLA - 2003, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, categoria Profissionais da Educação.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

1968



1968
(para Ferreira Gullar e seus branquíssimos e longos cabelos)

você estava sendo preso quando nasci

ou

nasci quando você estava sendo preso

não importa a ênfase
hoje estou presa
alucinadamente presa à sua poesia!

(seus poemas são meus pães dormidos, meus mingaus, minha água na caneca. Sorvo,
como, cheiro, me lambuzo,

me satisfaço, deito em cima, durmo, acordo
com mais fome e sede de sabê-los)


Karla Soares Antunes
22-11-2010

Este poema foi entregue em mãos ao poeta na ABL em 2010. Que emoção! Ofereço a ele em sua homenagem pelo dia do poeta - 20 de outubro.



- imagem do poeta pesquisada no google -
- foto do arquivo pessoal -

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Maria Eduarda


         Eduarda
       você é como uma tarde
       de verão:
       por mais que o sol arda,
       uma brisa suave, sem alarde,
       já sopra
       acalentando meu coração
       e anunciando o fim do dia,
       Maria.


Só para você saber, Duda, o quanto meu coração a você pertence.
Parabéns por você ser uma Lobinha admirável!
Beijo da sua Dinda!

sábado, 17 de setembro de 2011

Eu também acuso



 EU TAMBÉM ACUSO
 (e as estratégias recuso)
                 
                   para Kássio Vinícius Castro Gomes


                     por trás do cabo da faca
 uma mente fraca

 (compreenda!)


                     por trás do cabo da faca
 uma boca xinga babaca

 (não repreenda!)


                     por trás do cabo da faca
 uma mão que ataca

 (se renda!)


                      na frente do cabo da faca
         um professor sai de maca.


 16-01-2011 Klara Rakal

Poema não selecionado no Concurso de Poesias para Profissionais de Ensino da SME 2011.

Homenagem-denúncia 

O professor universitário Kássio Vinicius Castro Gomes foi assassinado em 07 12 2010 no Instituto Metodista Isabela Hendrix, na região centro-sul de Belo Horizonte. 
Foi esfaqueado no tórax por um aluno descontente com uma nota baixa. Kássio tinha 39 anos, era casado e deixou dois filhos. O assassino confessou o crime. 



sábado, 10 de setembro de 2011

Depois veio a adolescência



DEPOIS VEIO A ADOLESCÊNCIA

O lugar onde vivo
é uma ilha
por ela tenho sentimentos de filha.

Filha malcriada
e às vezes insana,
quando quero ir pro Centro
e me percebo insulana.

Mas no retorno,
depois da ponte do Galeão,
respiro aliviada:
estou em casa.

Nasci aqui.
Na pracinha vi chegar Papai Noel
quando eu tinha cinco anos
(era um tempo sem desenganos).

Meu pai plantou dois paus-brasis
numa rua já muito enfeitada
por ipês.

Depois respondeu aos porquês
que insistente fiz:

Por ser português de pátria
e brasileiro de coração,
ele cultivou essas mudas
e até hoje as presenteia.

– um pedido de desculpas? –

Como meu pai,
a Ilha plantou em mim
muitas amendoeiras...
Por isso eu era assim:

livre de culpas
felicidade correndo na veia.

Mas cresci
e vi muros crescerem
grades se multiplicarem
ouvi muitos casos contarem...

Saudade da época
em que dormíamos no quintal da frente
muro baixo, manta sobre a grama rente
nas noites de imensurável calor.

O dia tinha horas a mais
eu as gastava admirando o mar
apoiada na beira do cais.

Bicicleteava pela Ilha inteira
em tempos de inocência...
Do Moneró até a Ribeira.

Depois... veio a adolescência...

Assim era a Ilha do Governador.

Muita coisa mudou,
mas devo à Ilha
o que hoje sou...
agosto 2011

Amigos! Preciso compartilhar com todos vocês a alegria de ter sido premiada em 1º lugar no I Concurso Temático de Poesia realizado na Casa de Cultura Elbe de Holanda, com o poema Depois veio a adolescência, na noite de ontem. Dediquei o prêmio ao meu pai, que hoje passou por um procedimento cirúrgico e colocou 4 pontes de safena; tudo correu bem até o momento, ele está no pós-operatório, no Hospital de Laranjeiras. Agradeço à minha amiga Rosiene e ao meu filho Pedro, que me acompanharam e torceram muito! E a todos os meus amigos e familiares, que sempre me incentivam muito!
Um beijo grande a todos!
Karla Soares Antunes,
em 10 09 2011.

domingo, 3 de julho de 2011

Longevidade


                               
LONGEVIDADE


E foi gerado João.
E todo o tempo que João viveu
foi de noventa e sete anos.
E, depois de esquecido num asilo,
de velhice
morreu.

E gerou-se José.
E todo o tempo que viveu José
foi de sessenta e cinco anos.
E, depois de aposentado,
expirou sentado,
e morreu.

E foi gerado Pedro.
E todo o tempo de vida de Pedro
foi de quarenta anos.
E, depois de receber o parco salário
que quase alimentava seus sete filhos,
num acidente de trabalho
morreu.

E gerou-se Paulo.
E toda a vida de Paulo
foi de vinte e cinco anos.
E, depois de assaltado,
levou três tiros à queima-roupa
e morreu.

E foi gerado Daniel.
E todo o tempo que viveu Daniel
foi de dezoito anos.
E, depois de ficar só,
cheirou pó,
e de overdose
morreu.

E gerou-se Samuel.
E todo o tempo de vida de Samuel
foi de dez anos.
E, depois de tanta fome, tanto frio,
virou trombadinha,
mas não sobreviveu
e morreu.

E foi gerado Lucas.
E tudo o que conseguiu viver
foram três anos.
E, depois de subnutrido,
pegou doença infantil,
e não resistiu,
e morreu.

E foi fecundado Mateus
(ou seria Marcos
ou seria Tiago
ou seria Jesus?),
numa noite de horror,
de nojo e de violência.
E por todo o resto da vida
de sua mãe
a marca da ausência
e a cicatriz da recusa
povoaram o seu remorso.
E Mateus
nem nasceu.

KLARA RAKAL

Poema com o qual, pela 1ª vez, participei da Coletânea de poemas de profissionais da Educação da Prefeitura do Rio, publicada em 1993. Nessa época eu trabalhava na E. M. Gandhi, lá em Santa Cruz. Início de carreira, bons tempos, bons amigos.

-imagem pesquisada no google-

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Autorretrato

                                     AUTORRETRATO

                         Não sou mais aquela imagem
                         no retrato revelada
                         de sorriso puro
                         a face lisa
                         a testa clara, desnuda
                         de rugas, a boca muda
                         o olhar fitando o nada...

                         Agora sou outra, invertida
                         sou a imagem finda
                         velha, empoeirada, distorcida
                         e já sem muita coragem
                         para a vida.

                         Klara Rakal

Poema criado em 1992, em um laboratório de produção de textos poéticos, ministrado pela poetisa, mestra e doutora Graça Cretton, na UFRJ, parafraseando Cecília Meireles. Abaixo, o poema de Cecília (desculpem a intimidade!), grande poetisa, fonte inesgotável de inspiração!



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

- imagem pesquisada na internet -

domingo, 5 de junho de 2011

Exílio Hoje

Vida de Passarinho - Caulos.

EXÍLIO HOJE               


               Minha terra tinha palmeira,
               pau-brasil, ipê, laranjeira
               onde, um dia, cantaram sabiás
               e outras aves igualmente raras.

               Minha terra tinha céu
               com lindas e numerosas estrelas,
               tinha várzeas com flores exóticas,

               tinha bosques e até amores!
               (O que é mesmo flor?
               O que é amor?)

               Minha terra tinha sossego,
               coruja piando, vento brando
               enquanto eu cismava, sozinho,
               à noite, nos prazeres dela;
               hoje já não se pode mais,
               tem sequestradores demais!

               Minha terra tinha primores
               – flores e amores –
               que tais não encontro eu hoje...
               Ah, Deus, não permita
               que eu viva por muito mais tempo
               neste presente, sem desfrutar
               dos prazeres de antigamente!

- imagem pesquisada na internet-

Poema publicado na Coletânea de Poemas dos Profissionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, edição de 1997.
Paráfrase do poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, que reproduzo abaixo:

CANÇÃO DO EXÍLIO
 (Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em  cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 



sábado, 4 de junho de 2011

Graça

              
                     Tantos cansaços
                     nos adiam
                     Tantos laços
                     nos atam aos dias
                     Tudo se esvai, tudo passa,
                     menos o meu amor por você,
                     Graça.

                     Tantos passos
                     se tornam tardios
                     Tantos espaços
                     vazios
                     Tantos cigarros no meu maço
                     Tudo é difícil, tudo escassa,
                     menos o meu amor por você,
                     Graça.

                     Tantos atropelos e dificuldades
                     Tantas surpresas no espelho
                     Fatalidades
                     Tudo nos refreia
                     e ultrapassa
                     Mas nada ameaça
                     o meu amor por você,
                     Graça.

O poema foi escrito em 2001, mas te amo desde sempre, irmã.

*imagem capturada no álbum do orkut de Graça*

domingo, 29 de maio de 2011

Poemas para Liane

             Para Liane Conhecer-se

       Se umas qualidades observo no dia a dia,
       Outras tento adivinhar, e as imagino;
       Mas, se em algo eu errar,
       Me perdoa,
       Que tu não és fácil de desvendar:

       Curiosa, persistente, decidida,
       Inteligente, racional, objetiva,
       Perspicaz, sagaz, possessiva,
       Bem-humorada, alegre
       E fiel àquilo em que acreditas.

       Tudo em ti é
       Definição: preto no branco,
       Claridão, prontidão.
       Não há fingimentos,
       Não há espaço para a hesitação.


             Para Liane (Re)conhecer-se

       Tua rigidez é só casca.
       Defesa?

       Somente uma mascarazinha de proteção
       Que quase engana; mas tua armadura
       Às vezes sucumbe a um frágil
       Abridor de latas acompanhado de um sorriso...

       Tanto sentimento aí dentro
       És explosiva sim,
       Intensa,
       Mas muito longe da bruxa
       Como insistes em te rotular.

       Tu não és tão racional assim,
       Tens um pouco de sonhadora
       Senão, não serias professora!

       Passeias com tua morenice
       Às vezes salpicada de pó de giz
       E, pra disfarçar a doçura, dizes:
       – Seus pentelhos!

       És boa de conselhos, que eu,
       Na minha gravidez de saber viver,
       Ouço com atenção.
       Tu serias uma ótima irmã mais velha
       Pois tens uma asa
       que inspira proteção.

       Tu és grávida demais
       Nesta tua sensibilidade de mulher...

       Aliás, a maternidade
       abriu uma fenda no teu escudo:
       Tens uma doçura tão grande
       Quando falas do Rafael...

       (Não gostaste de amamentar
       Detestaste o peso da barriga
       Mas o teu filho
       É a razão da tua vida!)

       Quem souber te desvendar
       Terá uma amiga para sempre.

06/12/1994
Liane! Querida amiga, cúmplice e confidente em longos regressos à casa, na volta do trabalho. Mas não só isso: como diz o poema, uma irmã, a quem admiro e de quem sinto muita saudade!

*imagem "roubada" do álbum do orkut de Liane*